Natural de Tuntum, 370km distante de São Luís, capital do Maranhão, o defensor é mais um dos casos de que precisou enfrentar os mais distintos desafios até alcançar os holofotes no Beira-Rio. Mais novo de três filhos (é irmão de Maisa Kellen e Diana Meyre), Victor Gabriel, aos quatro anos, viu o pai, Ramon, se separar da mãe.
Raimunda, empregada doméstica e técnica de enfermagem, precisou tomar as rédeas para conseguir o sustento. Enquanto trabalhava, contava com a ajuda da mãe, Marlene, para cuidar dos netos.
O futuro zagueiro do Inter não dava trabalho na escola, mas já demonstrava a paixão pela bola, que ficava claro nas intermináveis partidas no meio da rua.
A qualidade também aparecia. Aos 10 anos, chamou atenção nos jogos escolares de Lisdean Souza e Denildo Santos. A dupla, que liderava escolinhas, ficou encantada pelo porte físico e técnico. Ocorre que o dinheiro era escasso.
— Denildo perguntou se eu não o chamaria para Bom de Bola aqui em Tuntum. O convidei para a escolinha, mas ele disse que a mãe não tinha condições de pagar os R$ 20 que cada aluno ajudava. O mandei vir treinar — diz Lisdean.
A perna esquerda dele era diferenciada. Era muito objetivo. Você via a vontade de vencer.
— Denildo Santos, ex-treinador de Victor Gabriel
Apesar da qualidade com a perna esquerda, Victor Gabriel passou por uma lapidação nos fundamentos. O trabalho surtiu efeito e contou com a ajuda de Antonio Goveia, empresário que está com o zagueiro desde os 12 anos e entrou em cena com dinheiro, chuteira e lanche.
— Ele era muito grande para a idade, mas técnico. Apesar das dificuldades, nunca desviou. Sempre teve foco — valoriza o representante.
Reprovado no Palmeiras
O garoto avançava, e o trio resolveu enviá-lo para um teste no Palmeiras. Permaneceu três semanas, mas acabou reprovado. Lisdean ainda ficaria sem o projeto e a solução foi levar Victor ao Atlético Maranhense, na cidade vizinha. Nos dois sentidos.
Ascensão e contestação no Sport
No Leão, brilhou pelas categorias de base. Aos 16 anos, estreou no profissional do Sport. No entanto, acabou marcado por uma atuação na derrota por 2 a 1 para o Corinthians, em Itaquera, pelo Brasileirão.
— Ele teve uma carreira meteórica no Sport, mas no jogo contra o Corinthians foi substituído no intervalo e perdeu espaço — comenta Goveia.
Mudança de posição no Inter
O desempenho o fez oscilar entre o profissional e a base, até por ter mais características defensivas e não um lateral que se destacasse pelo apoio. A perda de espaço culminou no Sport abrir conversas para emprestá-lo ao Flamengo de Arco Verde.
Foi quando Leandro Lima entrou em cena. Em razão do bom trânsito no Inter (já tinha Ricardo Mathias no clube), o outro representante de Victor Gabriel conversou com o então executivo da base, Jorge Andrade, para que desembarcasse em Porto Alegre.
Chegou ainda como lateral-esquerdo, mas revelou que já tinha atuado na zaga ao então técnico do sub-20, Pablo Fernandez, hoje auxiliar de Roger.
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